Tudo o que é sólido pode derreter
Tudo o que é sólido pode derreter é uma série brasileira de 2009, co-produzida pela TV Cultura e Ioiô Filmes, que tem como personagem principal a garota Thereza (Mayara Constantino) e suas reflexões sobre a transição para a idade adulta, sempre traçando paralelos com alguma obra da literatura de língua portuguesa.
A série é derivada de um curta-metragem do mesmo nome, produzida em 2005, tendo na direção de ambas produções Rafael Gomes, também responsável por Tapa na pantera. O curta Tudo o que é sólido pode derreter está disponível no Porta Curtas.
A adaptação em série teve 13 episódios, cada um focado em uma obra literária específica, permeados pelo cotidiano de Thereza. Logo no primeiro episódio, as divagações da protagonista tem o respaldo do dualismo de Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, e ainda conta com a participação de Maria Alice Vergueiro no papel do Diabo.
Os Sermões (Padre Antônio Vieira), Os Lusíadas (Luis Vaz de Camões), Senhora (José de Alencar), Dom Casmurro (Machado de Assis) e Macunaíma (Mario de Andrade) são algumas das obras revisitadas na série, sempre com episódios que trilham entre a comédia e o drama de forma divertida e carismática.
Tudo o que é sólido pode derrenter ainda pode ser visto pela programação da TV Cultura, em DVD ou até mesmo no site do canal.
In Treatment
Episódios de 25 minutos que retratam uma sessão de terapia. Psicólogo e paciente sentados e conversando, sempre no mesmo ambiente, sem flashbacks, nenhuma dramatização dos assuntos abordados. Somente 25 minutos de conversa entre duas pessoas. A fórmula de In Treatment pode soar tediosa, mas a série produzida pelo canal HBO e adaptada da série israelense BeTipul, é um dos melhores e mais cativantes dramas da tv.
Com cinco episódios por semana, cada um dedicado a um paciente, In Treatment sempre encanta com diálogos fascinantes e interpretações impecáveis, tendo Gabriel Byrne – o psicólogo Paul Weston – como peça central. A série conta com a participação – premiada no Emmy de 2008 – de Dianne Wiest no papel de Gina, a psicóloga de Paul, e Michelle Forbes (True Blood, Lost) como esposa de Paul.
Entre os pacientes, na primeira temporada, vale a pena destacar a atuação de Mia Wasikowska (que deixou a desejar como a Alice de Tim Burton). A série também rendeu um Emmy para Glynn Turman em 2008, além do Globo de Ouro de 2009 para Gabriel Byrne.
Atualmente In Treatment está na 3ª temporada, sendo a primeira com roteiro original (BeTipul teve somente duas temporadas), e não tem previsão para ser exibida no Brasil.
Dexter, o livro
“Francamente: se você não consegue entregar meu jornal na hora, como vai esperar que eu consiga não matar pessoas?”
Dexter, o adorável serial killer interpretado por Michael C. Hall na série produzida pelo canal Showtime é originalmente cria da imaginação do escritor americano Jeff Lindsay, surgido na 5ª obra do escritor – e primeiro livro da série -, Dexter: A mão esquerda de Deus foi lançado em 2008 no Brasil graças ao sucesso da série de tv.
Dexter: A mão esquerda de Deus, lançado nos EUA em 2004 como Darkly Dreaming Dexter, conta a história de perito criminal em análise de sangue, Dexter Morgan, que nas horas vagas é um serial killer especializado em matar outros serial killers e passa a acompanhar uma série de crimes do misterioso assassino do caminhão de gelo, ao mesmo tempo que nota uma possível comunicação desse novo assassino consigo.
Aos que já conhecem a série de tv, o livro pode ser uma boa surpresa: a narrativa é a mesma da primeira temporada, porém com algumas leves alterações em personagens secundários (o Angel Batista é quase um figurante no livro) e uma morte no final de um personagem que continuou vivo na série.
Mas o melhor motivo para ler o livro é a narração altamente irônica e ácida de Dexter, que lembra a maldade sem peso na consciência de Humbert Humbert em Lolita de Vladimir Nabokov, proporcionando uma leitura divertida e empolgante.
FIT Rio Preto 2010 – Dias 20 a 24
Dia 20:
Lamartine Babo – Centro de Pesquisa Teatral – CPT SESC Consolação
Um belo show musical em homenagem ao compositor Lamartine Babo… mas ficou devendo no quesito linguagem teatral, principalmente pela reputação que CPT e Antunes Filho trazem de longa data.
Abracadabara – Luiz Paëtow
Escuridão e lanterninhas disputam a atenção do vozeirão misterioso de Luiz Paëtow que discorre um texto fragmentado e tocante, levando a platéia num semi-isolamento de auto-análise. O último a sair, acenda a luz.
Dia 21:
Felizardo – Grupo Banda Mirim
Teatro infantil com números circences e muita música para adulto nenhum botar defeito. Destaque para a construção dos personagens Aurora e Felizardo que fojem do estereótipo criança boba e ingênua.
O Pato Selvagem – Cia. Les Commediens Tropicales
Uma aula de como transformar um texto do século 19 em uma peça ultra-moderna, com um visual enlouquecedor e rechear de pitadas de surrealismo.
Dia 22:
Comida Alemana – Cristian Plana
O cenário é quase claustrofóbico, o texto e atuações são densos e extravasam tensão; O pouco do diálogo travado pelo grupo chileno é em alemão. Impossível não sair da sessão com um aperto na alma.
Mel – BlackBerries Wilted Company
Não recomendo para quem não conhece ou simplesmente não gosta de butoh. Caso contrário, delicie-se com a excelência técnica e poética do trabalho de Gerrah Tenfuss.
Dia 23:
Anatomia Frozen – Cia. Razões Inversas
Compensando o cenário simples, a dupla de atores com vestimentas de salas cirúrgicas dissecam, em atuações impecáveis, pedofilia e crimes hediondos em diferentes perspectivas. Comovente e revoltante na medida certa.
Os Cegos – Fantasmagorias Tecnológicas – Cie UBU Theatre
Uma experiência única que deixa o público imerso numa escuridão, quase compartilhando da cegueira dos 12 personagens-cabeças que parecem flutuar no palco. Vale a pena xeretar os mistérios técnicos da Cie UBU Theatre após a apresentação.
Dia 24:
A princípio tentei acompanhar um teatro de rua, mas o começo não foi muito empolgante e corri para pegar outra sessão de Os Cegos para aproveitar a experiência num local de melhor visualização. Por fim, depois de toda a maratona, tirei orestante do último dia do FIT Rio Preto para descansar.
FITinianas
- Finalmente foram publicadas algumas fotos no site oficial do festival, mas infelizmente poucas são boas.
- Em compensação, a querida Juliana Merengue disponibilizou algumas belas fotos pelo flickr.
FIT Rio Preto 2010 – Dias 15 a 19
Em meio às movimentações da 10ª edição do Festival Internacional de Teatro de Rio Preto que estão percorrendo a cidade, faço uma pausa para um breve levantamento do que já acompanhei até agora e registrar algumas impressões.
Dia 15:
Todos os preparativos e anúncios para o FIT Rio Preto 2010 sempre deixaram as pistas de que esta edição seria uma reformulação do festival: mudanças na organização, desparecimento do logo oficial, morte anunciada do Não-Lugar. No entanto, no evento de abertura – que evitou qualquer pronunciamento de autoridades e afins – foi exibido um vídeo institucional relembrando os últimos 9 anos do FIT, ao invés de um video-clip explosivo listando as atrações da edição.
Em seguida, a abertura do FIT 2010 contou com a estréia do espetáculo Antes, do Armazém Companhia de Teatro para um público estimado em 5 mil pessoas que, nesta edição, contou com arquibancada extra no Anfiteatro Nelson Castro.
O texto denso, com direito à toda excelência do grupo Armazém, era um banquete para os fãs de teatro ao mesmo tempo que pode ter causado certo desconforto aos visitantes mais conservadores.
Dia 16:
DentroFora – In.Co.Mo.De-Te
Um casal praticamente imobilizado, cada um numa caixa, discute o passado e o drama de estar preso, assim como o medo de libertar-se. Excelente figurino e atuações reforçam o texto com divertidas frases de efeito.
Dia 17:
Marcha para Zenturo – Espanca! e Grupo XIX de Teatro
É sempre gratificante assistir a um espetáculo do Espanca! (já conferi o fantástico Amores Surdos e o razoável Congresso Internacional do Medo) e mais uma vez fiquei em estado de pura catarse. Os diálogos aparentemente desconexos entre os personagens limitados ao seu próprio tempo e a angústia de se sentir deslocado dominam o espetáculo.
OTRO (or) weknowitsallornothing – Coletivo Improviso
Divertido apunhado de contos, teatro, histórias, experiências antropológicas, dança, coreografias, vídeos e afins. Ajudou a amenizar o peso na alma provocado pelo Espanca!.
Dia 18:
A Hora em Que Não Sabiamos Nada Uns dos Outros – Cia. Elevador de Teatro Panorâmico
Em respeito à mensagem final da apresentação “não revele o que viu, permaneça na imagem”, evitarei detalhes. A escolha da Praça Cívica para o desenrolar dos 300 personagens-tipos, que vagam pelo centro de qualquer cidade, foi um grande acerto.
Las Julietas – Marianella Morena
O competente quarteto uruguaio apostou em piadas repetitivas e gags físicas que agradou grande parte do público, mas me deixou bastante entediado.
Ode ao Homem que se Ajoelha – Cia. New York City Players
Espetáculo que me causou uma intensa crise de riso por vergonha alheia. Mas o jornal The New York Times jura que é um musical “denso, divertido e estranhamente belo”.
Dia 19:
Os Mentirosos – Cia. Teatral Palhaços Noturnos
Provavelmente este foi o maior fiasco do festival. Não merece atenção.
FatzerBraz de Bertolt Brecht&Co – andcompany&Co.
Espetáculo em processo carregado de referência histórica, visual kitsch e construção anárquica. Muita gente não gostou, mas fiquei curioso pra ver o resultado final.
FITinianas
- As arquibancadas montadas para espetáculos na Swift e ginásio do SESC tornaram um grande desafio sem as saudosas almofadas presentes em edições anteriores do FIT;
- Vários fotógrafos foram contratados pelo evento para registrar os espetáculos (e em alguns casos atrapalhar o público) mas na galeria de fotos do site só foram disponibilizadas imagens de divulgação dos grupos.
- A divulgação alardeou o grande número de apresentações gratuitas, o que não é novidade desta edição. A única mudança foi que para essas apresentações os ingressos são liberados com uma hora de antecedência na portaria, provocando grande irritação e desconforto no público.
- Sempre admirei a estrutura do complexo Swift, principalmente os interiores dos prédios… Encontrar o prédio da chaminé, onde está instalado o ponto de encontro, com as paredes internas rebocadas e brancas foi um choque.
BIG BANG BIG BOOM ou o stop-motion mais incrível do mundo!
BIG BANG BIG BOOM é “um ponto de vista não-científico sobre o começo e a evolução da vida… e como ela possivelmente poderá acabar”, mas prefiro classificar o vídeo do BLU como “a stop-motion mais incrível do mundo!” ao animar street art em diferentes espaços.
O vídeo que levou “meses de trabalho e centenas de baldes de tinta” foi dirigido e animado por BLU, produzido e distribuido por ARTSH.IT e a trilha é de Andrea Martignoni.